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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

AINDA ACREDITO


Estive no mês passado com um cliente com quem tenho longas conversas quando ele vem ao Brasil, quando normalmente estamos acompanhados por outra pessoa da empresa. Dessa última vez sentamos apenas os dois e conversamos por mais de duas horas sobre assuntos mais pessoais.

Ele me contava que já passou por três grandes mudanças no casamento e que agora vinha a quarta.  Hoje a mulher, mais do que qualquer outro papel, se identifica com o papel de avó. Ele que viaja muito e gosta disso sabe que ela não quer mais sair de perto dos netos, mas não parece estar se incomodando.
Soube administrar bem essas mudanças.

Eu, quase que todo dia, aprendo.
Muitas vezes a respeito de mim mesmo.

Belchior disse uma vez numa música "como é perversa a juventude do meu coração, que só entende o que é cruel, o que é paixão", e aquilo me veio ali na hora.
Ao pensar no que ele me contava, consegui resumir o que se passou na minha vida. Me separei tendo como estopim um motivo que não era tão importante, mas que me deu a consciência que ela achava, que tudo deveria ser da maneira dela, muito porque eu havia me tornado uma pessoa que procurava evitar discussões quando pensava que não iam levar a lugar nenhum.

A maneira de amar pode mudar com o passar dos anos e quando finalmente, a partir daquela briga, percebi que isso tinha acontecido, eu não quis aceitar. Eu tinha um ideal de amor e estava zangado. Ela já não me amava com a mesma paixão e descobri que isso não ia mudar. Isso me deixou triste e com muita raiva. Eu pensava que ia ser daquela maneira idealizada, para sempre.

Eu não tinha outros planos. Não queria outra pessoa. Não planejava outro futuro. O presente que eu tinha era o futuro que eu queria.

Talvez ela me amasse de outra forma, mas dessa nova forma, eu não queria e quando, tolamente, pressionou para que eu tomasse uma decisão e me fez crer que não precisava mais de mim para pagar contas, não havia motivo para continuarmos juntos.
Agora é tarde, mas isso me remete ao Pequeno Príncipe e sua rosa:

Assim o príncipezinho, apesar da boa vontade do seu amor, logo duvidara dela. Tomara a sério palavras sem importância, e se tornara infeliz.
"- Não a devia ter escutado - Confessou-me um dia - não se deve nunca escutar as flores. 
Basta olha-las, aspirar o perfume. 
A minha embalsamava o planeta, mas eu não me agastara me devia ter enternecido... ".

Confessou-me ainda :
" Não soube compreender coisa alguma! 
Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras. Ela me perfumava e me iluminava... 
Não devia jamais ter fugido. Deveria ter-lhe adivinhado a ternura sob os seus pobres ardis. São tão contraditórias as flores! Mas eu era jovem demais para saber amar "

O Pequeno Príncipe - Antoine Saint Exupéry

Um homem zangado precisa de tempo, mas ansiosos não toleram situações ambíguas. Imaginam um mundo dividido entre o certo e o errado, e no caso dela, pressionou dando no que deu. A ansiedade força resoluções antes que as situações estejam maduras.

Escrever aqui tomou vários rumos, mas um dos principais, foi lidar e me fazer entender os meus processos. Como qualquer terapia, teve suas arrancadas e suas paradas. Fui colocando uma coisa e outra e vim formando uma figura. Hoje eu consigo ver um mosaico.

Tenho uma doença chamada romantismo. Os anos estão passando sem que eu me cure disso. Por mais que não tenha hoje, continuo acreditando no amor e na paixão.
Vivi a mudança do amor, sem perceber.
Quando percebi, fiquei zangado e não consegui me adaptar rapidamente.
Eu ainda queria ser uma das coisas mais importantes.

Nossa auto-estima faz com que procuremos ver o lado positivo do que acontece conosco, ainda que ao custo de não nos permitirmos viver completamente o luto pelo que perdemos. Se eu me admitisse tão triste como me senti pela perda que tive, ao invés de racionalizar, talvez eu tivesse me curado mais rápido. Um amigo disse uma vez que até para brigarmos nós éramos elegantes. Essa elegância ainda me fez sentir muita coisa calado, quieto.


Demorei muito para realmente começar a me curar.


E aquelas coisas todas que eu sentia,
Sinto muito,
Não sinto mais.

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