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sábado, 7 de agosto de 2021

SIMPLIFICAR A VIDA SEM PERDER OS AFETOS

 

As mídias de música mudaram tantas vezes que eu, que tenho idade para isso, passei por Vinil, Fita Cassete, Walkman, CD, MP3, IPOD, Pen Drives e agora o Streaming. 

Música sempre fez parte da minha vida.

Há anos atrás ganhei um toca-discos que convertia os discos de Vinil em CDs. Depois de converter em Cds guardei alguns discos de vinil que quase estou zerando.

Não tenho esse fetiche com o vinil.

Depois disso não usei o aparelho, mas como foi presente de uma pessoa de quem gosto muito, guardei e não usava há mais de dez anos. Quando a esposa de um amigo manifestou o desejo de ouvir os LPs da mãe, no dia seguinte o fiz de presente a eles. 

Cheguei à conclusão que guardar o presente era um ato de fidelidade mas que dar para alguém que iria valorizar não iria diminuir nem minha fidelidade nem o afeto que sempre vou ter por aquele amigo.

E tinham as centenas de CDs, organizados, numerados e outras dezenas de Cds gravados por mim com músicas que eu tinha gostado de ouvir, e como meu gosto é muito eclético, eram muitos. 

Já desapeguei da maior parte mas ainda tenho trabalho pela frente, para ver o que mantenho, porque o Spotify não tem tudo e não quero perder essas músicas.

Guardo coisas que fazem sentido para mim, mas, cada vez menos coisas. Tenho limpado a vida do excesso de coisas... Tenho jogado fora algumas e doado muitas.

Guardo fotografias, cartas, documentos, filmes que gosto em DVD. Toda vez que penso no que ainda devo manter eu penso no que ainda faz sentido para mim e no que minha filha não jogaria fora com tanta facilidade quando eu morrer. Não, não estou planejando isso. É só uma questão prática na qual não me incomoda pensar.

Li um artigo de Luiza Batista Amaral, na Revista Cult, do UOL, onde ela cita Walter Benjamim, em seu ensaio "Experiência e |Pobreza", e isso me deu uns insights interessantes a respeito desse meu processo.

"Compor uma coleção consiste num exercício constante de montar uma narrativa, não só através do ato de selecionar os objetos, mas também de eleger quais deles serão exibidos"...

"O colecionador é o mediador da circulação dos objetos, movimentando seu ciclo de vida e morte (exibição e apagamento). É aquele que não apenas coleta, mas também o que investe suas memórias e afetos nesse corpo externo, construindo nele a extensão de sua existência." 

"O burguês coleciona objetos no interior de sua moradia como um antídoto ao anonimato da cidade, ambiente marcado pelas multidões, pelo apagamento da individualidade..."  

" essa relação entre indivíduo e objeto é representativa, o burguês investe memórias e afetos nele, por isso, se encoleriza ao ver seus bibelôs quebrados, imagem que simboliza o apagamento de sua existência no mundo. Habitar nessa condição burguesa significa deixar rastros."...

Vendo por esse lado as coisas que guardei vejo que estou mantendo vivas as memórias e que guardar essas coisas todas e escrever aqui seja a minha forma de deixar rastro. Limpar a vida das coisas desnecessárias é dispensar aquilo que não fará falta para manter minhas memórias e nem para manter meus afetos.

Esse ensaio de Walter Benjamim com certeza ainda vai me trazer outros pensamentos.