Total de visualizações de página

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

UMA MULHER QUE GOSTA DE PESCAR

Estava conversando hoje com um cliente americano e ele me contava do fim de semana nas Keys, quando tinha levado para pescar os filhos e, para mim surpreendentemente, a mulher. Achei que teria sido um fim de semana para os "homens da casa", mas ele me disse que acha que sua mulher gosta de pescar, talvez até mais do que eles.

A mulher dele é russa e eu nunca a encontrei, mas ele fez questão de me dizer que ela é muito bonita, mas que coloca a isca e tira o peixe do anzol, o que poderia criar algum contraste com os traços delicados que ela tem.

Também tive a curiosidade de saber se ela já pescava desde criança, mas ela aprendeu a gostar disso a partir do momento que passaram a fazer isso juntos.

Acho isso extremamente interessante. Uma mulher que gosta de fazer as mesmas coisas que seu marido e filhos, principalmente quando o hobby parece tão incomum para uma mulher.
Pensando bem, acho que gostar de fazer as mesmas coisas é muito atraente, principalmente quando é genuíno e não apenas uma forma de agradar.

Muitas vezes ouvi estórias de casais que descobrem um belo dia que o outro odiava fazer algumas coisas que fazia com uma certa frequência.

Ah, o amor...ou o esforço que se faz para ter um.

sábado, 29 de outubro de 2011

INVENTANDO ENREDOS PARA A VIDA DOS OUTROS

Cada um tem suas distrações.
Um dia desses uma vizinha veio aqui em casa e conversamos um pouco.
Ela mora só. E me contou que algumas vezes criava toda uma estória para as pessoas que encontrava na rua e deu o exemplo de um sujeito que ela via e que achava que era sozinho e viu na rua com um cachorro, depois viu o cachorro com uma mulher e outra vez foi a hora de ver o casal junto com o cachorro.
E foi me contando o que ela pensava a cada encontro.

Para quem tem imaginação, dá para fazer uma novela.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

SOLIDÃO NÃO É UM PRIVILÉGIO MEU

Uma maneira de tomar contato com o que está acontecendo com os outros tem sido o que se coloca e como os outros reagem ao que é colocado no Facebook. 

Um dia precisando matar tempo para deixar melhorar o trânsito, que estava anormalmente absurdo, encontrei, por acaso, no aeroporto, uma amiga de Fortaleza que eu acho extremamente popular, inteligente e bem humorada,  e com quem tenho me comunicado mais através do Facebook que pessoalmente.

Fomos com a amiga que viajava com ela para um café e antes de sair do aeroporto, passamos um tempo conversando e em algum ponto da conversa eu disse que o Facebook tem sido uma forma de me sentir menos só e ela me surpreendeu dizendo que para ela também.  

Eu não imaginaria isso vindo dela. Ela me parece tão popular e ainda assim me diz sentir a solidão.

Há algumas semanas outra amiga, mais jovem, colocou um texto que atribuem a uma pessoa conhecida, e que falava da falta que as pessoas estão sentindo de ter um amor e há poucos dias vi uma amiga de alguém reagir a algo de uma forma que deixava muito claro que sentia o mesmo. No caso dessa minha outra amiga, também me surpreendi.

Até então eu julgava que isso era uma coisa minha, que fazia parte de um tempo do qual eu precisava após uma separação, mas sei que senti falta de namorar embora não me sentisse pronto para isso. 

Gosto de ficar namorando, alisando, mas não faço a menor ideia de como começar isso novamente. 

Logo eu, que me sentia tão bem fazendo isso!

Sei que aqui existem outras coisas a se pensar e falar, relacionadas às dificuldades para deixar de ser só, mas essas  vão ficar para um outro momento. Hoje é apenas para constatar que existem outras pessoas passando pelo mesmo sentimento.

Olhando para o que estão falando os outros, embora eu viva muito bem comigo mesmo, parece que não sou o único nessa estória de estar sozinho.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

FAZER A COISA CERTA

Um dia desses entrei correndo na Leroy Merlin, comprei umas coisas que eu precisava e entre elas uns metros de corda de nylon. Quando passei pelo caixa dei para a moça o papel que tinha escrito a metragem da corda e coloquei a corda dentro do saco de compras. O que eu não percebi é que junto com a corda eu também estava com duas tomadas que coloquei no saco, sem passar pelo caixa. Quando cheguei em casa percebi que as tomadas não haviam sido cobradas por minha culpa.

Coloquei junto com a carteira o saco plástico das tomadas com o código de barras e quando tive oportunidade voltei a Leroy, num dia em que estava quase fechando e fui direto ao caixa. 
Expliquei o acontecido e pedi a moça para me cobrar pelas duas tomadas, o que foi feito, com o comentário de uma cliente que estava no caixa que ela nunca tinha visto aquilo.

Me pareceu a coisa certa a fazer e eu penso que em outras épocas aquilo não me pareceria tão importante, quanto me pareceu agora. Acho que estou numa idade que fazer a coisa certa passou a ser uma necessidade.

Quando fui escolher o piso para o apartamento, optei por um piso que imita madeira, mas é feito de PVC e escolhi aquele que, segundo o vendedor, tinha a quantidade necessária na Leroy Merlin. A secretária da proprietária do apartamento disse que ela preferia pagar o piso na própria loja e no dia anterior eu deixei tudo organizado lá: o piso, cola e uma tinta para pintar o rodapé, só que no dia seguinte quando ela passou na loja ele não tinha a quantidade do piso com que haviam se comprometido comigo e eu havia combinado com o instalador de ir naquele dia.

Foi uma situação muito chata, porque ela não tinha tempo a perder e me disse ao telefone que tinha que ir embora e foi, pedindo para que eu avisasse quando tudo estivesse pronto e ela pudesse passar na loja novamente.

Fui correndo para a loja e o vendedor chamou o gerente da área dele e providenciaram para que o piso que faltava viesse de outra loja, mas chegaria mais tarde. Propus algo que eles aceitaram. Eu faria uma primeira compra com as caixas de piso que eles tinham ali, voltaria mais tarde quando chegasse o restante do piso e faria uma nova compra do que faltava, pagaria as duas com meu cartão, e no dia seguinte a moça voltaria à loja para passar o cartão dela, sem que a fizessem perder tempo e cancelariam as notas ficais de venda e as compras com meu cartão. 

Como o problema foi criado por eles, eles aceitaram a solução que eu estava propondo e tudo foi feito como combinado. E ainda me prometeram um desconto nas cortinas, caso eu venha a comprar lá. Agora estou na dúvida se quero cortinas. Não estou querendo nada que possa reter pó. Acho que eles também fizeram o que deveriam fazer.

Fazer a coisa certa.
Está valendo para tudo na minha vida.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

SENDO ÚTIL

Algumas vezes temos a oportunidade de tomar uma decisão melhor, apenas porque um dia numa conversa qualquer ouvimos falar de alguma coisa, que não nos tocava naquele instante, mas cuja informação recebida naquele momento ficou ali armazenada.

Uma vantagem da idade é a experiência, que acho que muitas vezes se traduz por ter visto ou ouvido algo que está lá em algum lugar e que, finalmente, tem o seu momento de nos ser útil.

É um pouco do que dá sentido ao que estou fazendo, quando divido essas coisas tão diversas que de alguma forma passaram na minha vida e que, se puderem servir pelo menos a uma pessoa, já valeu ter colocado aqui.

domingo, 23 de outubro de 2011

VÃO SOBREVIVER SEM VOCÊ


Não dá para acertar todas.
Dos livros que comprei tentei ler um ontem, que acabei dando uma passada de olhos em todas as páginas procurando encontrar algo que me dissesse alguma coisa, um conceito, uma frase, um insight, mas nada; e acabei por abandonar numa lanchonete barata.
Uma absoluta perda de tempo, embora o tema intuição me sugerisse que eu iria ler algo interessante.

A única coisa que me fez pensar um pouco  e mesmo assim não foi colocada de uma forma brilhante era a pergunta de o que você faria se percebesse que todos passam muito bem e são felizes sem você, questionando o pensamento que as pessoas as vezes tem de que sem elas outros não sobrevivem.
Sobrevivem sim.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

MEXENDO COM MEU CORAÇÃO

Não sei qual o fundamento que isso poderia ter. Fazia tempo que eu não tinha contato com  morte e de repente eu vejo até onde não era para ver.
Sexta-feira foi o enterro do pai de uma amiga.
Esse eu nunca havia encontrado.

Domingo eu estava no ar desde a madrugada e a primeira notícia veio cedo e mexeu muito comigo porque não me parece natural que um pai venha a enterrar um filho e é mais devastador quando é uma criança pequena de uma pessoa próxima e de uma forma totalmente inesperada.
A partir dali fiquei fora de prumo.

Duas horas depois veio outro telefonema comunicando a morte de um parceiro de trabalho.

Fui a uma padaria e lá  teve essa coisa que criança tem comigo, de falar comigo. Eu até olhei para a pequenininha que estava no colo da mãe que estava em pé, mas não mexi com ela, então ela mexeu comigo. Estendeu o braço quando eu estava passando, eu parei, ela me mostrou o frufru que tinha na meia, me fez olhar para lugares e quando eu resolvi perguntar o nome dela, ela disse Laura, mas a mãe disse que ela se chamava Olívia. Laura era a prima dela.

Na hora não me toquei, mas depois você vê fantasma até onde não é para ver, e está fazendo um ano da morte de Esther, irmã de Laura.

Ontem vi a notícia da morte do pai de um amigo. Com esse, estive uma vez.
Me senti meio desatento e fiquei quietinho, com a atenção dobrada esses dias. A cabeça não estava no lugar.

E para mostrar que eu estava em dias que precisava de ficar atento, quando eu estava tirando uma dos alimentadores dos pássaros o gancho que prende ele se soltou e a gaiolinha inteira caiu até o térreo. Pensei na sorte que tive dela não cair em cima de uma pessoa ou um carro. Não foi falta de cuidado ou atenção. A argola da parte superior se soltou, mas ainda assim achei que era para prestar mais atenção à tudo.
E prestei.

Outra coisa que me aconteceu foi ter ido ao Shopping Eldorado no domingo com dois carros diferentes e o primeiro tem Sem Parar e o segundo não e eu ter entrado com o segundo atrás de outro carro, sem tirar o ticket do estacionamento. Percebi assim que entrei e para resolver tomou tempo. 

Realmente a cabeça não estava no mesmo lugar do corpo.

sábado, 15 de outubro de 2011

O CASAMENTO SUSPEITOSO - TEATRO

Fui ao Teatro do Sesi, na Av. Paulista para assistir O Casamento Suspeitoso de Ariano Suassuna, que também é o autor de O Auto da Compadecida.
Superdivertido, um elenco de muitas pessoas, com alguns muito bons.
As semelhanças com o Auto da Compadecida são muitas. Não é a mesma coisa, principalmente quando se contava com um Matheus Natchtergaele, fazendo o Grilo, mas é muito bom e é ao vivo.
Muitas risadas e tem um estacionamento na Av. Paulista, ao lado do Teatro.
Se pensar que está reconhecendo a noiva, estará certo. É Suzana Alves, a "Tiazinha", que ainda tem um longo caminho para ser chamada de uma boa atriz, mas que cumpre seu papel. Ingressos podem ser comprados pelo telefone.
Valeu a pena e gostei muito de ter ido. Recomendo.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

NÃO SE PRENDER A COISAS PEQUENAS

Acho que algumas vezes ficamos nos prendendo por coisas pequenas.
Estou começando a me livrar desse tipo de pensamento.

Estou noutro apartamento alugado no mesmo prédio e já comecei bem lá porque quando fui ver havia um probleminha no piso perto da varanda e na cozinha, que tinha o mesmo carpete de madeira. Fui até procurar uma solução paliativa de alguém que viesse para fazer apenas a parte que estava estragada, mas era praticamente impossível achar alguém que quisesse fazer isso e o material também ia ser outra lenha.

Por fim a proprietária, sem nenhum drama ou economia, pagou por um piso novo que eu escolhi.

Não sei quanto tempo vou demorar aqui, mas vou fazer tudo direito. A dona do apartamento começando fazendo esse piso por conta dela me anima ainda mais a fazer isso. Fora o tempo, que custa também, para fazer amorosamente as coisas que eu mesmo quero fazer, também custa dinheiro, mas estou fazendo tudo porque essa agora é a casa que eu tenho e onde vivo.
E essas coisas todas quero ver bem feitas.

Não tenho mais disposição pra ficar me prendendo a essas coisas de pequeno valor que ficam amarrando a gente.

Não é tão automático. É um exercício mental fazer isso.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

ESTÓRIAS DO TIO CANDINHO 3 - ISAMAR NÃO VOLTA

Isamar era quase que da família e também foi quase que uma outra mãe para meus primos. Ela era do Bem Bom, um povoado próximo,  estudava e passava o tempo de escola com meus tios e nas férias ia ficar com seus pais. No dia previsto para ela voltar ela, o ônibus veio, mas ela não.

Minha tia Luciola preocupada telefonou e comentou o fato com tio Candinho, que viu ali uma ótima oportunidade para lhe pregar uma peça. A irmã dele, Tia Cleó tinha vindo visitar minha avó e antes de ir embora passou pela loja onde estava tio Candinho, que lhe pediu para para ser sua cúmplice, escrevendo uma carta para minha tia, como se fosse do pai da Isamar,dizendo básicamente que Isamar não voltaria para estudar em Remanso, o que foi feito ali mesmo, com as instruções dele.

Na carta "o pai" dizia que Isamar não iria voltar para estudar porque havia chegado na cidade deles uma sobrinha do Dr. Adolfo, que era boa professora então que ela estudaria por lá mesmo no Bem Bom.  Que não pensasse que era por nada não, e por aí a coisa ia.

Ele mandou entregar a carta para minha tia na casa dele e logo em seguida já chegou meu primo Carlos Amâncio chorando na loja por conta da novidade. Tio Candinho acalmou ele, contando a verdade, enquanto minha tia ligava para contar da carta recebida para minha avó. Minha avó que gostava muito de uma brincadeira, conhecendo bem o filho dela, teve pena e logo perguntou à nora:
- Minha filha, isso não é coisa do teu marido?
Mas Luciola tinha certeza que não e sofreu o dia inteiro com aquilo e quando soube se sentiu como uma patinha. Resolveu que deveria haver algo para mostrar que ele também era capaz de cair num trote e buscou a oportunidade.

Tio Candinho havia comprado uma propriedade de um amigo chamado Pedro Leobino. Essa propriedade veio a ser inundada pelo lago formado pela represa de Sobradinho e essa inundação gerou uma indenização paga pela CHESF ao atual proprietário, que era ele. Ali estava a chance para a peça.

Ela escreveu uma carta para tio Candinho como se fosse o Pedro Leobino, dizendo que correu a notícia que ele fora bem indenizado e que tendo isso em vista ele tinha chegado à conclusão que havia vendido o sitiozinho muito barato. Tio Candinho recebeu a carta e acreditou que o remetente havia sido o Pedro e passou o dia inteiro meio chateado com o assunto, de vez em quando voltando a ele, quando encontrava com quem conversar, inclusive minha tia que havia providenciado a entrega da carta na loja.

Terminado o dia ele foi tomar uma cerveja com alguém que trabalhava no banco que ficava em frente à loja e novamente comentou o assunto, tirando do bolso a carta para mostrar ao amigo, mas no momento que abriu a carta percebeu algo que não havia notado antes; a curvinha da letra "c". E na hora pensou: -Eu conheço esse "c"; reconhecendo a caligrafia da própria mulher e também que havia caído na brincadeira.

Mas, como ele mesmo diz, trote merece contra-trote e já arquitetou o que faria.

Chegou em casa e minha tia perguntou como havia sido o dia e ele disse:
- Sabe quem apareceu hoje na loja? E já respondeu: - Pedro Leobino.
Ela quis saber o que aconteceu e ele contou.
-Ele não falou nada. Só ficou sentado ali em frente à minha carteira, sem falar nada, só me olhando. (É, pra fazer graça ele fala da mesa dele como se estivesse na escola).
- E aí Candinho, o que é que você fez? Perguntou ela curiosa.
E ele:
- O que é que eu podia fazer? Peguei o talão de cheques e fiz um cheque e entreguei para ele.
Foi quando ela ficou desesperada com o resultado da brincadeira:
- Fui eu que escrevi a carta Candinho!!!  Fui eu!!!

Para algumas coisas, como pregar uma boa peça, é bom ter um profissional.
Ele é.
Ela não.

UM ACIDENTE E UM ENCONTRO EXCEPCIONAL

Há alguns anos tive um encontro excepcional com uma pessoa que bateu no meu carro no estacionamento de um supermercado. Eu estava dentro do carro estacionado quando ele saindo de ré de uma vaga transversal àquela que eu estava bateu deixando uma marca de tinta e uma lanterna de pisca quebrados.

Saí do meu carro e fui até a porta do carro dele, que era um Corolla com vários anos de uso e acho que muito calmamente perguntei se ele estava bem.
Ele, que tinha ascendência japonesa, saiu do carro dele, disse que havia voltado duma viagem longa no dia anterior e que haviam dito para tomar cuidado quando fosse dirigir após uma viagem como aquela e me perguntou se eu tinha idéia de quanto ia custar o reparo. Respondi que não, mas que ele me desse um cartão que eu ligaria para ele quando soubesse.

Foi aí que a coisa começou a se tornar diferente.
Ele me preguntou se eu acreditava em vidas passadas.
Uns dias depois eu mandei um email para ele dizendo que eu já havia visto e  o custo seria de R$ 300,00.
Recebi como resposta um e-mail, que pensei ter guardado numa pasta do próprio e-mail, mas não achei, e devo ter impresso em algum lugar, então vou tentar reproduzir o que foi dito no e-mail.

Ele dizia que me tinha feito um depósito no valor de  R$ 500,00, para compensar o trabalho que eu teria com aquele acidente, e que eu perdoasse a ele pelo valor enviado, já que gostaria de enviar mais do que tinha mandado, mas que não estava dentro das possibilidades financeiras dele.

A vida traz surpresas agradáveis.
Essa foi uma delas.
Respondi que estava seguro que os antepassados dele estariam orgulhosos dele.

O cartão de visitas dele está aqui na minha frente. Nunca joguei fora.
Muitas vezes desejei bem a ele que tem exatamente o mesmo nome do fundador da seita Seicho-No-Ie, Masaharu Taniguchi.
Estou desejando coisas boas a ele, mais uma vez, nesse exato momento.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

CANSADO DAS COISAS DA MINHA CABEÇA

TODO SUJO DE BATOM
Composição: Belchior


Eu estou muito cansado
Do peso da minha cabeça,
Desses dez anos passados,
presentes
Vividos entre o sonho e o som
Eu estou muito cansado
De não poder falar palavra
Sobre essas coisas sem jeito
Que eu trago no peito
E que eu acho tão bom.

Quero uma balada nova
Falando de brotos, de coisas assim
De money, de lua, de ti e de mim
Um cara tão sentimental

Quero a sessão de cinema das cinco
Pra beijar a menina e levar a saudade
Na camisa toda suja de batom

O AMOR NUNCA TERMINA


No livro Mulheres do jornalista gaúcho David Coimbra, numa outra crônica ele conta que estava com uma amiga e surgiu a seguinte conversa:

e aí, num rompante, a Tânia começou a falar sobre o amor. De que nesga do assunto antigo ela extraiu esse novo, isso não sei. Sei que proferiu (sim, a Tânia profere) uma frase perfeita.
-Quando a gente ama de verdade - filosofou, o amor nunca termina. Pode se modificar; terminar, jamais. Por isso é uma dor quando a gente se afasta de um amor - e a seguir a frase perfeita: -Cada amor que se vai é uma morte.
...
Pensei: tem razão a Tânia. E percebi que todos os poucos amores que eu tive estão no mesmo lugar, intactos. E lamentei a dor de morte que senti quando cada um deles se foi.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

NÃO PRECISO DE MUITO

Semana passada um amigo me avisou que iria tocar num restaurante muito perto aqui de onde eu moro.
Fui para lá e ouvi ele tocar, batemos papo, jantamos, tomamos umas cervejas e ainda comemos uma pizza.
Algum momento liguei sem querer para uma pessoa que retornou a ligação e batemos um papo.
Dali, voltei para casa e dormi.
Estava feliz com a noite que tive.
Não precisava de mais nada.

MULHERES - DAVID COIMBRA


Outro livro que acabo entre hoje e amanhã é Mulheres, do gaúcho David Coimbra, com crônicas curtinhas que foram publicadas no jornal Zero Hora. Deu para dar umas boas risadas, mas lembrando de Cândida, se algo te faz rir, procura a verdade que se esconde por trás.

Para dar um gostinho, vai a crônica da página 116 do livro:


ELES PREFEREM AS LOIRAS

David Coimbra
  
Ela se virou de lado. Assestou a orelha no travesseiro. E miou, sorridente:
- Amanhã é seu aniversário...

Ele apenas sorriu de volta, modesto: era. Ela continuou, rouca:

- Pode pedir o que quiser...

Ele arregalou os olhos.

- O que eu quiser?

Ela, lambendo os lábios, a malícia faiscando nas bordas das pupilas:

- Arran...

Ele sentou na cama, apoiando-se nos cotovelos:

- Tudo mesmo?

- Tudo. Tudinho... - disse: tudjinho, com dê e jota.

Ele olhou para o gesso do teto, sonhador:

- Quero que você seja loira!

Ela arregalou os olhos. Sentou-se também.

- Lo-loira? - gaguejou. - Quer... que pinte o cabelo?

- Isso! - Estava ereto, agora. Esfregava as mãos. - Isso! Sempre quis que você fosse loira. Sempre quis.

Ela deitou a cabeça no travesseiro. Fechou os olhos. De olhos fechados, concordou:

- Tá bem. - E depois de um suspiro: - Tá bem...

Na manhã seguinte, ele saiu de casa saltitante, foi trabalhar assobiando uma música dos Travessos. Ela acordou sentindo uma pedra no peito e uma bola de tênis na garganta. Não conseguia se imaginar loira. Ao contrário: sempre se orgulhara dos cabelos negros, jamais tocados por tintura. Loiras... Sabia bem como eram. Vistosas, é verdade. Tinha de admitir que loiras chamavam a atenção. Porém, eram dissimuladas, orgulhosas. Arrogantes, até. Além do mais, a vida inteira desprezara as falsas loiras e suas raízes de cabelo pretas. Que nojo. Mas havia prometido... Que idéia era aquela, "pode pedir o que quiser"? Bem-feito!

Foi um dia difícil. Um dia de angústia. Por que ele pedira aquilo? Não gostava dela como era? Cobiçava alguma loira? Estava ficando com raiva do desgranido.

À tarde, na hora da transformação, o ódio se desfez em soluços. O cabeleireiro teve de lhe buscar um copo d´água com açúcar. Só se sentiu melhor quando saiu do salão e passou por dois homens de terno. Eles a olharam de um jeito que nunca havia sido olhada antes: com gula. Por que os homens olhavam assim para as loiras?

Em casa, mirou-se no espelho. Não conhecia aquela ali refletida. Vestiu sua lingerie mais ousada, uma que nunca tivera coragem de usar. Ele chegou e tomou um susto.

- Meu Deus, é outra mulher!

Era. Foi uma noite de amor única. Nem na época de namorados tiveram uma noite igual. Pela manhã, ele se levantou cansado, mas satisfeito. Ajeitava a gravata para ir trabalhar, quando ela saiu do quarto. Estava já vestida: saia mínima, decote íngreme.

- Onde você vai assim? - espantou-se ele.

- Ao super - respondeu ela, já saindo. Saiu. Ele correu para a janela, perplexo, a tempo de vê-la ondulando pela rua. Ondulando. Queria uma loira. Tinha uma loira.

O TEMOR E A FELICIDADE

Li um livrinho de um psiquiatra chileno, que achei bem interessante.
Ele diz que o contraponto da felicidade não é  a desgraça ou a aflição, mas o medo.
O que impede você de ser feliz é o medo, que pode ser também de perder ou não conseguir algo.
Diz que as mesmas atitudes necessárias para uma vida feliz são as que permitem a vitória sobre o temor.

Tem uns pedacinhos desse livro que estão bem de acordo com o caminho que tenho trilhado, como por exemplo:

Se se quiser ser feliz há que se aprender a sê-lo aqui e agora; com o que se tem e com o que se é.
...alcançar uma atitude cujo segredo reside, a nosso juízo, na aceitação de si mesmo e da vida, com suas luzes e sombras, com seus dons e limites. Só este caminho de conformidade com a própria existência pode levar o homem à felicidade.
Se interessou, o título é o mesmo do post e o autor é Sérgio Peña Y Lillo.

sábado, 8 de outubro de 2011

MUDANDO DE PROFISSÃO

Devem existir muitas pessoas que ao tentar mudar completamente de vida fizeram, num arroubo, uma saída de cena dramática, indo fazer parte da tripulação de um navio ou se juntando à Legião Estrangeira, exército de mercenários de todas as nacionalidades, que os mais jovens nem imaginam o que seja.

Outro dia desses eu estava numa conversa com dois músicos e um deles estava fazendo um tratamento para a perda de voz que estava tendo e comentou que talvez tivesse que fazer outra coisa para viver, mas que ele só sabia fazer aquilo!

Lembrei disso porque, embora goste muito do que faço, as vezes penso no que eu poderia ter como alternativas para a minha vida profissional e na semana passada quando estava fotografando no aniversário de uma amiga um sujeito veio e me perguntou quanto eu cobraria para fotografar o aniversário dele como estava fazendo com o da Larissa, e eu disse que não cobrava nada, que fazia por prazer e que ia ficar com o cartão dele e podíamos falar depois.

Como alternativa, acho melhor que o navio.

Ou a Legião Estrangeira.

VOCÊ ESTÁ OLHANDO PARA MIM SEM ME VER?

Você não vê uma pessoa nunca  e depois que vê pela primeira vez encontra novamente logo em seguida. O que é isso?  Talvez até tenha visto antes mas não me chamava a atenção e eu não sabia quem era.
A vizinha que queria agasalhar o passarinho eu sabia quem era, porque tinha me chamado a atenção. Aliás, antes que ela se preocupe, preciso mandar um e-mail dizendo que eu continuo no prédio e que os passarinhos já acharam o caminho.

Nessa sexta-feira estava ouvindo um amigo que estava tocando no café do Pão de Açucar, quando vejo pelo vidro a proprietária do outro apartamento chegar ao mercado. Um pouco depois ela vem para o café, senta numa mesa exatamente em frente a que eu estava e toma café, lê jornal e passa lá um tempo que eu julguei uma eternidade.
Eu fiz exatamente o que acho que ela gostaria: fiz de conta que nem sabia quem era; ignorei completamente.

Mas dessa vez, eu também gostei de fazer isso.

domingo, 2 de outubro de 2011

UMA PESSOA BOA

As pessoas são diferentes.
Seria bom se a gente só encontrasse as pessoas boas. Eu até que não posso reclamar. Meu saldo nesse aspecto é muito bom.

A dona do meu apartamento novo é uma senhora de noventa anos e até então eu vinha lidando com a secretária da filha e a própria filha, que é uma pessoa que já ocupou um cargo público, e que, quando me ligou a primeira coisa que fez foi me dar seu telefone de casa e seu celular.

Na quinta-feira a secretária, que já conheci e que é uma pessoa ótima, falou que ia me mandar o contrato  e eu disse que se mandasse até determinado horário eu assinava e mandava de volta na mesma hora. Quando mais tarde o porteiro me interfonou informando que alguém tinha trazido o contrato eu disse que já descia e assinava para ele poder levar de volta.

Quando eu cheguei lá embaixo vi que além do motorista tinha uma senhora no banco de trás. Peguei o contrato, fui até a portaria para ter uma mesa para assinar e voltei ao carro onde nos conhecemos. Era a mãe, com seus noventa nos que estava ali. Quando a partir de agora eu falar a palavra adorável eu quero falar de uma pessoa como ela e mais não precisa ser dito. Realmente adorável. Foi muito, muito bom encontrá-la e aquilo mexeu comigo.

Ela me contou que já morou nesse apartamento e que eu iria ser muito feliz aqui porque este tinha sido um dos lugares onde ela foi mais feliz.

Contei que estava trocando o piso e ela sabia que a filha estava pagando por isso, porque ela dizia, preocupada, que era uma coisa cara.  Falei que quando arrumasse tudo que eu queria  gostaria de convidá-la para tomar um café e ela disse que queria que eu fosse tomar um café com ela na casa dela, mas que quando viesse aqui ela traria um bolo. 

Tudo o que eu fizer aqui vou fazer com prazer e quanto a ser feliz aqui, não tenho a menor preocupação.

Já estou sendo.

UMA PESSOA ARROGANTE

Parece que certas coisas acontecem de determinada forma para nossa proteção. Embora não pensasse no assunto, ter a proprietária do apartamento onde eu morava, vivendo no prédio ao lado e não conhecê-la me incomodava, porque eu tenho essa coisa de gostar de gente e achava a situação um pouco estranha.

Um ano e pouco que eu estava no apartamento teve a estória duma cota extra que ela, dentro da lei, me fez pagar e eu, por conta disso, dentro do mesmo artigo da mesma lei, ter parado de pagar o fundo de reserva e descontar do aluguel o que eu tinha pago antes. 

Eu nunca teria feito isso com uma pessoa razoável.

Ontem a conheci na hora de entregar o apartamento. Até esse dia só havia tido contato com ela por e-mail.

Fiquei feliz de não tê-la conhecido antes. Teria me feito mal na hora e teria me feito mal permanecer no apartamento dela a partir daí.  A mulher é uma das pessoas mais arrogantes e mal educadas que eu já conheci, mas sei que a vida vai ensiná-la algum momento porque ela está merecendo.

Me deu a impressão de ainda no ultimo e-mail tentar uma vantagem em favor dela, quando me pedia o controle da garagem que eu comprei já que não havia um e o recibo do próximo IPTU. Também por e-mail lembrei a ela disso dizendo que até daria a ela, se eu não fosse ficar no prédio, e num último e-mail antes de encontrá-la eu fiz as contas do IPTU, que é dividido em dez cotas, das quais eu havia pago oito e mandei para ela mostrando que eu havia pago mais do que deveria e mesmo consciente disso, não estava descontando a diferença a meu favor no último aluguel, como uma delicadeza com ela,  mas também para mostrar que eu não ligo muito para valores pequenos.

Uma pena, ela não merecia.

Essa semana vi numa hora do almoço uma pessoa ao pedir algo tratar com delicadeza uma funcionária de um restaurante muito simples e quando ela veio trazer a bebida que ele pediu, ele agradecer e a moça não resistir a fazer o comentário que ele era muito educado.

O que será que a moça do restaurante ou eu mesmo diríamos para essa mulher, se nossa educação permitisse?