Uma das finalidades desse blog é a de escrever algumas coisas maravilhosas que ouvi de forma que a narrativa se mantenha fiel ao que contou o dono da estória.
Quando acho a estória muito boa pergunto se posso ficar com ela.
Essa estória ouvi muitas vezes, mas dessa vez pedi para ouvir novamente e gravei no celular para ser o mais fiel possível.
Vou relatar na primeira pessoa, como se fosse o dono da estória contando:
Era janeiro de 2001. A Mega Sena estava acumulada e seria o maior prêmio de até então. Eu estava em Jequié, na Bahia, com um colega de trabalho e enquanto esperávamos o horário para um encontro de trabalho propus ao colega que fossemos até a Loteria fazer um jogo.
Na fila propus: "Se eu ganhar eu te dou um milhão, se você ganhar você me dá um milhão" , mas ele respondeu que nada feito.
Propus então que se qualquer um de nós ganhasse que dividíssemos meio a meio.
Mas ele respondeu que não e propôs que deixássemos como estava e fizéssemos um jogo juntos, aí sim meio a meio. Não fizemos nada.
No dia seguinte, ainda em viagem, ao lado do restaurante onde almoçávamos tinha uma Lotérica e o colega me disse para dar a ele dez reais e eu já imaginava o que ele ia fazer.
Ele fez vários jogos aleatórios com volantes separados.
Tivemos nossa reunião de trabalho após o almoço e quando saímos de lá eu já tinha o plano na minha cabeça.
Quando saiu o resultado da Mega Sena conferi as apostas numa Lotérica e não tínhamos ganho nada. Fiz um jogo novo para o próximo concurso com os números vencedores do concurso que acabara de ser sorteado.
Peguei os volantes que já tínhamos e coloquei o volante dessa nova aposta no meio.
Uma coisa me chamou a atenção e fiquei pensando se ele iria perceber. A impressão das apostas que tínhamos feito juntos e essa nova "vencedora" estava diferente, um tinha a impressão mais forte e o outro tinha uma impressão mais fraca. Eu achava que qualquer um iria perceber a diferença.
Fui ao encontro desse colega que na época além do emprego tinha uma gráfica rápida. Perguntei a ele se tinha internet lá para conferirmos o resultado para ver se tínhamos ganho e ele respondeu que não, mas que tinha em casa e quis me mostrar uma máquina nova que tinha acabado de adquirir.
Ele tinha sido funcionário da Caixa Econômica Federal e eu já caminhando para mostrar um certo despreparo e inocência disse para que ele ligasse para a Caixa para pedir a alguém para informar o resultado. Ele disse que não dava para fazer isso mas que na gráfica eles trabalhavam para uma Lotérica e que ele poderia ligar para eles para saber o resultado.
Ele pegou o resultado e eu dei a ele os volantes para que ele conferisse as apostas.
Logo na primeira aposta acertamos dois números e ele fez duas bolinhas. O segundo já era o volante novo que para ele era uma aposta vencedora.
E ele disse: Zé, ganhamos, ganhamos !!!
Eu disse para ele deixar de brincadeira ele repetiu:
Ganhamos!!! Estamos ricos!!!
Eu disse novamente para ele deixar de brincadeira e ele me disse:
- Confira você aí!!! É verdade!!! Confira você então!!!
E depois de "conferir" que tínhamos ganho, dei sequência à brincadeira dizendo:
- Nós somos muito conhecidos aqui na cidade. Não podemos receber esse prémio aqui! E ele concordou.
- E temos que ver como vamos gastar esse dinheiro, porque é muito dinheiro! E ele concordou novamente.
Tudo que eu falava ele concordava.
Foi quando eu disse: Precisamos de um cofre para guardar esse bilhete. E ele imediatamente disse vamos ali, e esse ali eu não sabia onde era e ele começou a fazer planos.
Quando eu terminar esses contratos que eu estou cuidando vou tirar uma licença sem remuneração!
Fomos até uma Lotérica porque quando saía o resultado eles colocavam num cartaz quantos ganhadores tinha o concurso e de que estado eles eram, então, na porta da Lotérica eu disse que não ia entrar porque se não aparecesse um ganhador da Bahia eu já poderia sair correndo ali da porta.
Vem cá, vem cá!!!
Estava tudo favorável e ele entrou e viu o cartaz que não dizia de quais estados mas dizia que eram apenas dois ganhadores. Como o prêmio era de 28 milhões, caberia a nós dois 14, ou seja, 7 milhões para cada um e em 2001 isso era muuiiito dinheiro!!!
Foi quando eu disse a ele que ele não podia falar nada com a esposa dele e que eu não falaria nada para ninguém e ele mais uma vez concordou.
E propus: Vamos para Salvador, passamos três dias em Sauípe, sexta, sábado e domingo.
O pai dele era funcionário do Banco do Brasil e eles sempre tiveram gado no Estado do Pará, então comecei a colocar ele para sonhar:
Podemos comprar a fazenda e criar gado.
E também para fazer planos com as bondades que ele poderia fazer com aquele dinheiro todo perguntando o que ele ia dar para cada um.
Perguntei o que ele ia dar para o sogro e ele respondeu: - Um plano de saúde para aquele miserável.
E ele, entre outras coisas, começou a ficar preocupado com assalto.
Do quarto dele ligou para o 0800 da Caixa para saber como receber o prêmio e me disse:
- Rapaz, meu coração está a mil !!!!
E estava mesmo.
E eu pensei; matei ele !!! E agora ?
Eu desci, falei com o filho dele e perguntei o telefone da mãe dele. Liguei para ela e contei que tinha feito uma brincadeira com o marido dela e que ele estava pensando que estava rico e muito emocionado e que eu não conseguia dizer para ele que era uma brincadeira e perguntei o que ela poderia fazer para me ajudar.
E ela me disse que ia ligar para ele e ligou.
Quando ela ligou, perguntou onde ele estava e ele respondeu que estava em casa vendo uma coisa comigo na Internet, mas não falou nada para ela do prêmio e de estar rico.
Ela ainda deu uma chance para ele e perguntou:
- Você tem alguma coisa para me contar?
E ele respondeu que não.
- Você tem certeza?
E ele disse: - Tenho.
E ele que estava no quarto dele gritou para mim que estava na sala da casa dele:
- Está fazendo o que aí embaixo? Vem aqui!
Aí eu já senti. Não deu em nada. A mulher dele não falou nada.
Ele achando que estava milionário, falou com ela e não contou. Ela sabendo que era brincadeira, mas como ele mentiu para ela, ficou com raiva e resolveu não dizer nada a ele também e ver até onde ele ia.
De novo no quarto dele e já sabendo que ela não tinha contado, o jeito era continuar aumentando a estória.
Perguntei se não era bom escrever no volante da aposta que aquele bilhete pertencia a ele e a mim e colocar nossos numeros de CPF, mas ele respondeu:
- Pra que isso? Somos eu e você. E travou o cofre do quarto com o bilhete dentro.
Aí eu falei: - Pera aí !!! Minha vida está valendo sete milhões de reais e quem me garante que você não vai me matar e ficar com o dinheiro todo para você?
E ele imediatamente abriu o cofre, pegou o bilhete e quis me entregar: - Pronto!!! Guarde com você !!!
Aí eu disse que confiava nele que podia deixar ali.
Foi quando disse a ele que eu precisava deixar umas coisas resolvidas porque no dia seguinte nós iríamos para Salvador para receber o prêmio. E falei:
- Mas eu não tenho dinheiro para a passagem! E ele respondeu:
- Eu tenho!
Foi nessa hora que o irmão dele chegou na casa dele e começou a conversar e em determinado ponto eu disse a ele: - Eu vou embora porque eu não tenho tempo para conversar com pobre. E, é lógico, o irmão dele não entendeu nada, rs.
Saímos passeando pela orla do rio da cidade e ele me contou do valor da indenização que tinha recebido ao sair do emprego da Caixa Econômica que tinha sido de uns trinta mil reais e eu respondi a isso dizendo:
E eu que ganhei esse dinheiro todo e estou devendo na praça uns 23 mil reais. E ele, na mesma hora:
- Eu lhe empresto!!!
E eu ri por dentro: Que ocasião perfeita para um conto do vigário!!!
Então eu disse a ele que quando eu recebesse eu pagava e ele perguntou:
- Amanhã?
Fomos até onde eu precisava ir, comprei o que precisava e eu anunciei que ia comprar um Whisky e disse para ele que não bebe nada:
- Hoje você vai beber!!!
E ele respondeu:
- Hoje eu bebo !!!
Um pouco mais adiante eu disse:
- Eu estou passando mal. Esse prêmio não está me fazendo vem. Tem tanta gente que precisa muito mais do que eu e não ganhou...
Quando passamos por uma concessionária e ele viu um mini buggy, e ele entrou com o carro no pátio onde estavam os carros à venda e perguntou quanto custava e isso me deu a oportunidade para dizer:
Menos, só porque agora você é milionário não precisa ter essa atitude.
Quando chegamos em casa eram umas seis e meia da tarde e naquele tempo para comprar uma passagem era necessário ir até o aeroporto e combinamos de ir mais tarde.
Quando cheguei em casa contei a estória toda para um irmão e ele se embolou de rir e, passada meia hora ninguém ligou e nada aconteceu.
Aí comecei a pensar se a mulher dele tinha entendido o que eu tinha falado para ela ou se os dois estavam lá pensando que tinham ficado ricos e estavam gastando por conta e se no dia seguinte seria eu teria que sair resolvendo toda a situação.
Não aguentei esperar. Liguei para ele e ele respondeu que estava fechando o caixa da loja e que assim que terminasse nós iríamos ao aeroporto.
O que aconteceu é quando ela chegou em casa ele contou do prêmio a ela, mas ele estava tão eufórico que ela também não teve coragem de contar para ele.
Foi nesse momento que ele me disse o que ela conseguiu falar para ele:
- Minha mulher me alertou uma coisa. A gente conferiu o bilhete mas não conferiu a data.
Aí eu me empolguei no papel:
Como assim? Eu ganhei !!! Eu quero meu dinheiro !!! Eu processo a Caixa Econômica, a Lotérica...
E ele contemporizou:
- Calma Zé!!! Calma !!!
E ele ainda estava no trabalho e quando ele ele chegou em casa é que foi conferir o bilhete e me ligou.
Naquele tempo ainda não existia identificador de chamadas, mas eu sabia que era ele e dei para meu irmão atender e ele começou a tirar a maior onda com ele, dando corda e ele dizendo:
- Eu quero é falar com ele!!!
Atendi.
E ele:
- Sujeito !!! A data é de hoje !!!
E eu respondi:
- Pense pelo lado positivo! olha a sensação que eu lhe proporcionei! Quantas pessoas no mundo já sentiram essa sensação de ficar milionário! E ele:
- Vá se f.... !
- Vá se arrombar !!!
