ORAÇÃO DA SOLIDÃO
Tende piedade de mim, Senhor, porque me esmaga a minha solidão.
Não há nada que eu espere. Aqui estou neste quarto, onde nada me fala. E, no entanto, não são presenças que eu solicito; se mergulhar na multidão, ainda me descubro mais perdido. Mas aquela outra que se parece comigo, também sozinha num quarto semelhante, aí a tens cumulada, se os seres da sua ternura vagueiam pela casa, Ela não os ouve nem os vê. De momento, não recebe nada deles. Mas, para ser feliz, basta-lhe saber a casa habitada.
Senhor, também não peço nada que se veja ou se ouça. Os Vossos milagres não são para os sentidos. Para me curardes, basta-vos iluminar-me o espírito acerca da minha morada.
Senhor, se o viajante perdido no deserto pertence a uma casa habitada, ele goza dela, muito embora a saiba nos confins do mundo. Não há distância que o impeça de ser alimentado por ela e, se morrer, morre no amor...
Eu nem mesmo peço, Senhor, que a minha morada seja perto de mim.
O transeunte perdido no meio da multidão transfigura-se ao ser ferido por um rosto, mesmo que o rosto não seja para ele. Assim o soldado apaixonado pela rainha. Ele se torna soldado de uma rainha.
Senhor, eu nem mesmo peço que me prometas essa morada.
Há, ao longo dos mares, destinos ardentes votados a uma ilha que não existe, Os do navio cantam o cântico da ilha e sentem-se felizes com isso. Não é a ilha que os cumula, mas o cântico.
Senhor, eu nem mesmo peço que essa morada exista nalguma parte.
A solidão, Senhor, é apenas fruto de um espírito que está doente. Ela não habita senão numa pátria, a qual é sentido das coisas. Assim o templo, quando é sentido das pedras, Só tem asas para este espaço. Não goza com os objetos, mas apenas com o rosto que se lê através deles e que os liga uns aos outros. Fazei simplesmente, com que eu aprenda a ler.
Nessa altura, Senhor, ter-se-á acabado a minha solidão!
Saint Exupéry em Cidadela
domingo, 29 de julho de 2012
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