Isamar era quase que da família e também foi quase que uma outra mãe para meus primos. Ela era do Bem Bom, um povoado próximo, estudava e passava o tempo de escola com meus tios e nas férias ia ficar com seus pais. No dia previsto para ela voltar ela, o ônibus veio, mas ela não.
Minha tia Luciola preocupada telefonou e comentou o fato com tio Candinho, que viu ali uma ótima oportunidade para lhe pregar uma peça. A irmã dele, Tia Cleó tinha vindo visitar minha avó e antes de ir embora passou pela loja onde estava tio Candinho, que lhe pediu para para ser sua cúmplice, escrevendo uma carta para minha tia, como se fosse do pai da Isamar,dizendo básicamente que Isamar não voltaria para estudar em Remanso, o que foi feito ali mesmo, com as instruções dele.
Na carta "o pai" dizia que Isamar não iria voltar para estudar porque havia chegado na cidade deles uma sobrinha do Dr. Adolfo, que era boa professora então que ela estudaria por lá mesmo no Bem Bom. Que não pensasse que era por nada não, e por aí a coisa ia.
Ele mandou entregar a carta para minha tia na casa dele e logo em seguida já chegou meu primo Carlos Amâncio chorando na loja por conta da novidade. Tio Candinho acalmou ele, contando a verdade, enquanto minha tia ligava para contar da carta recebida para minha avó. Minha avó que gostava muito de uma brincadeira, conhecendo bem o filho dela, teve pena e logo perguntou à nora:
- Minha filha, isso não é coisa do teu marido?
Mas Luciola tinha certeza que não e sofreu o dia inteiro com aquilo e quando soube se sentiu como uma patinha. Resolveu que deveria haver algo para mostrar que ele também era capaz de cair num trote e buscou a oportunidade.
Tio Candinho havia comprado uma propriedade de um amigo chamado Pedro Leobino. Essa propriedade veio a ser inundada pelo lago formado pela represa de Sobradinho e essa inundação gerou uma indenização paga pela CHESF ao atual proprietário, que era ele. Ali estava a chance para a peça.
Ela escreveu uma carta para tio Candinho como se fosse o Pedro Leobino, dizendo que correu a notícia que ele fora bem indenizado e que tendo isso em vista ele tinha chegado à conclusão que havia vendido o sitiozinho muito barato. Tio Candinho recebeu a carta e acreditou que o remetente havia sido o Pedro e passou o dia inteiro meio chateado com o assunto, de vez em quando voltando a ele, quando encontrava com quem conversar, inclusive minha tia que havia providenciado a entrega da carta na loja.
Terminado o dia ele foi tomar uma cerveja com alguém que trabalhava no banco que ficava em frente à loja e novamente comentou o assunto, tirando do bolso a carta para mostrar ao amigo, mas no momento que abriu a carta percebeu algo que não havia notado antes; a curvinha da letra "c". E na hora pensou: -Eu conheço esse "c"; reconhecendo a caligrafia da própria mulher e também que havia caído na brincadeira.
Mas, como ele mesmo diz, trote merece contra-trote e já arquitetou o que faria.
Chegou em casa e minha tia perguntou como havia sido o dia e ele disse:
- Sabe quem apareceu hoje na loja? E já respondeu: - Pedro Leobino.
Ela quis saber o que aconteceu e ele contou.
-Ele não falou nada. Só ficou sentado ali em frente à minha carteira, sem falar nada, só me olhando. (É, pra fazer graça ele fala da mesa dele como se estivesse na escola).
- E aí Candinho, o que é que você fez? Perguntou ela curiosa.
E ele:
- O que é que eu podia fazer? Peguei o talão de cheques e fiz um cheque e entreguei para ele.
Foi quando ela ficou desesperada com o resultado da brincadeira:
- Fui eu que escrevi a carta Candinho!!! Fui eu!!!
Para algumas coisas, como pregar uma boa peça, é bom ter um profissional.
Ele é.
Ela não.
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