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quinta-feira, 24 de março de 2011

ADULTOS AMPUTADOS EMOCIONALMENTE

Perguntei a uma menina de dezesseis para dezessete anos o que ela estava pensando como opção de carreira para o vestibular que se aproxima.
Na verdade eu já sabia qual seria a resposta.
Queria ouvir dela porque seria uma oportunidade para conversar sobre o assunto, que, no caso dela, me interessa pessoalmente.

Ela disse que queria fazer faculdade de cinema e a avó, de oitenta anos que a sustenta e à mãe dela também, antes de qualquer outra pessoa, imediatamente se manifestou, dizendo que ela não faria, aquela faculdade específicamente, por conta dela.

Aquilo, fez com que não fosse a discussão produtiva que eu imaginava, para entender qual era o raciocínio que ela estava fazendo, perguntando quais eram as perspectivas e o que ela conhecia do assunto e das possibilidades que ela teria, aqui no Brasil, de seguir nessa carreira, de forma que tornasse possível a ela pagar suas próprias contas.

Mais importante ainda, seria descobrir se ela tinha uma paixão pelo assunto,  o quanto ela conhecia e o que ela estaria disposta a sacrificar em função disso, como fazemos quando estamos apaixonados por alguém ou por algo.

A única argumentação que ela tinha era a de que queria fazer algo que a deixasse feliz.
Acho válido como princípio para nortear a vida, mas o raciocínio estava incompleto.
A conversa se tornou muito emocional. Não era o caminho que eu havia planejado.

A avó apenas tentava trazê-la para a realidade brasileira e mostrar o cansaço de alguém que esperava ter feito o suficiente para que dali por diante, estivesse com sua missão cumprida e ela pudesse estar consciente da sua realidade pessoal e preparada para cuidar de si mesma e da mãe também, que também foi mantida pela avó. 

Adultos permanecem dependentes de outros quando existe alguém que assume as responsabilidades que seriam deles.  As pessoas fazem isso quando podem. 

Quando não são desafiadas ou pela necessidade ou por alguém a serem tudo aquilo que poderiam ser. Se tivessem a necessidade, fariam o que fosse necessário.

Quando alguém faz por eles aquilo que eles mesmos deviam estar fazendo, eles são mantidos  na infância, quando supostamente necessitam de proteção. O fundamento é pensar que  se está  fazendo um bem a eles, quando, na realidade, está fazendo um mal tão grande que pode se tornar irreversível. 
Estão recebendo a mensagem de que são incompetentes para cuidar de si mesmo e que existe uma outra pessoa que o fará por eles.
Estão sendo amputados mental e emocionalmente.

A sociedade em que vivemos não permite fazer o que se quer sem preocupação com a sobrevivência. É uma sociedade capitalista onde existem contas a serem pagas.
Se você não quiser morar na rua e viver da caridade alheia.  

Ela, até hoje, não pagou nenhuma e vive por conta de uma pessoa, que embora esteja hoje bem de saúde, tem oitenta anos e não tem condições econômicas de pagar as contas que paga depois que se for.

Normalmente procuramos evitar assuntos desagradáveis e cuidamos deles apenas quando é inevitável.
Estou neste instante com um olho no presente e o outro no futuro.
O assunto foi provocado. 

Se levar a reflexões, por ora, é suficiente.

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