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terça-feira, 8 de novembro de 2011

O CONSTRANGIMENTO DE DEPENDER DE ALGUÉM

Somos estimulados a ser independentes e gostamos disso desde crianças.
Crianças começam a gostar de andar, tomar banho e ir ao banheiro sozinhas. Cada coisa nova é uma vitória.

Com a doença ou o envelhecimento se faz o caminho contrário em todas essas coisas.

Ver um amigo que escolhi como um segundo pai sofrer as consequências de um derrame sério tem me feito pensar no envelhecimento e nas doenças que impedem as pessoas de serem independentes fisicamente. Voltam a depender de outras pessoas para tudo. Sair da cama, tomar um banho, se locomover e fazer as coisas mais básicas e mais íntimas como a higiene pessoal.

Parece a vida começando e terminando da mesma forma.
Saindo da dependência de bebê para a  independência e depois voltando da independência de adulto para a dependência trazida por uma doença ou da velhice. O constrangimento deve ser maior quando a pessoa é totalmente consciente e o corpo é incapaz de acompanhar a mente.

Ouvi a respeito de uma pessoa que conheço, e vendo a pessoa ninguém imagina, que ela perdeu a possibilidade de alguns movimentos com os braços, o que a impede exatamente de se alcançar para fazer sua higiene pessoal. Deve ser muito constrangedor. Só quem vive uma situação dessas pode imaginar o que é ter essa sensação de impotência e dependência além do natural constrangimento.

Nessas horas me dá uma admiração por essas pessoas que tem como profissão auxiliar as pessoas que estão incapacitadas, como enfermeiras, ajudantes de enfermagem, cuidadores e pessoas da família a quem coube essa tarefa, porque isso deve ser um trabalho duro.


Já estava esperando a oportunidade de um feriado para ir passar uns dias com esse "meu" pai e sei que muitas vezes o que ele queria antes disso era conversar, muitas vezes contando as mesmas estórias que eu já conhecia, mas que se ele não perguntava, eu não demonstrava que já havia ouvido.

Uma vez ele me disse que ele queria muito ter o tipo de conversa que nós temos com seu próprio filho, mas não conseguia. É difícil conversar com um filho como se conversa com um outro amigo adulto. Exige um aprendizado, para deixar as expectativas e as frustrações de lado para ouvir outra pessoa, que por acaso é seu filho.

Ouvi muito a ele dessa ultima vez depois do derrame e vou com toda a disposição de sentar sozinho com ele para ouvi-lo, porque sei que é algo que ele quer e dá valor: uma pessoa que o ouça e saiba que a cabeça continua funcionando bem embora o corpo esteja tendo muitas limitações.

Ter a cabeça a mil num corpo que está a cem pode enlouquecer uma pessoa.

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