Total de visualizações de página

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

TIO JUSTINO E O DKW



Tio Justino tinha sobrenome alemão mas é a pessoa em quem eu penso quando se fala em fleuma inglesa. Talvez tenha sido a pessoa mais calma e disciplinada que eu conheci.
Guardo até hoje cartas que ele me escreveu em papel sem pauta, mas que ele usava como se fosse pautado, com uma letra pequena e bem feita, coisa que nunca caracterizou um médico.

Outra coisa em que se diferenciava dos outros médicos era sua crença, numa época em que médicos não  falavam nisso, que muitas doenças poderiam ser curadas pelo uso sistemático do pensamento.

Ele tinha um DKW preto, como esse da foto e era muito cuidadoso com o carro.
Por exemplo, água no radiador, só se fosse filtrada.
Se alguém batia com força excessiva a porta do carro, ele não falava nada, mas descia do carro, ia até a porta que havia sido batida com força, a abria novamente e a fechava com delicadeza, ensinando algo sem emitir um som.

Passou muitos anos com o carro e o Mário, seu genro na época, médico no mesmo hospital que ele começou a insistir que estava na hora dele trocar o carro, mas ele achava que não precisava  e talvez para evitar a troca estabeleceu um preço mais alto que o valor de mercado para um carro daquela idade.

Mário continuou com a sua campanha e ofereceu o carro para outro colega no mesmo hospital. Quando ele soube o preço, achou que era caro, mas o Mário perguntou para ele se ele havia visto a carro de manhã no hospital, naquela manhã de chuva em Brasília. Sendo positiva a resposta ele fez a seguinte proposta, tendo em vista que Brasília tinha uma poeira vermelha que grudava nos pneus num dia de chuva:

- Vamos até a casa dele agora. Se chegarmos lá os pneus do carro não estiverem limpos eu pago e o carro vai sair de graça para você!

Foi assim que o DKW foi vendido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário