Um amigo está temporariamente com um sedã enorme e me assustou quando me disse o preço. Por fim achei grande por fora e pequeno por dentro. Me buscou em casa com esse carro para um almoço que durou horas e reuniu cinco pessoas, todas próximas.
Num momento desse almoço um deles contou da compra numa viagem de um relógio de marca caríssimo, que mesmo com desconto de 50% saiu por um valor meio absurdo para os meus padrões, até porque não consigo ver quando ele mesmo tem a oportunidade de usá-lo onde mora e, com isso, se gostasse tanto deveria até usar no dia a dia porque mais vale um gosto...
Eu mesmo não tenho interesse nem no carro nem no relógio. Não fazem parte da minha lista de desejos nem que tivesse dinheiro sobrando, o que não é o caso. Quando gosto de alguma coisa cara é sempre porque estéticamente me agrada. Beleza me comove. Todo tipo de beleza. Um Porshe Cayenne por exemplo, me agrada porque acho o design excepcional, e não pelo fato de custar tanto.
Estou fazendo uma faculdade pública que tem muita gente que vive uma realidade muito diferente, inclusive da minha. Há umas três semanas uma colega me contou que tinham substituído a empresa de ônibus que atende à cidade e o cartão dela que tinha crédito não servia para a outra empresa e que se não tivesse pedido a uma pessoa para levá-la para a faculdade ela não teria ido porque não tinha dinheiro para o ônibus.
São realidades completamente diferentes e convivo com as duas. Não preciso e não devo agredir nenhuma das realidades falando da outra. Mas alguma coisa está errada.
A moça que faz limpeza para mim me contou que um dia desses foi chamada para fazer um exame que tinha sido pedido fazia dois anos! Dois anos! E enquanto isso, no Rio de Janeiro a Globo fazia uma reportagem sobre os funcionários que recebem e não trabalham da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, um estado que está falido, inclusive no setor de saúde pública, onde faltam materiais básicos nos hospitais.
Alguma coisa está errada.
Muito errada.
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