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sábado, 26 de outubro de 2019

SABER ENVELHECER - Cícero


Reparai que somos sábios se seguimos a natureza como um deus, curvando-nos às suas coerções. Ela é o melhor dos guias.

Os velhos inteligentes, agradáveis e divertidos suportam facilmente a velhice, ao passo que a acrimônia, o temperamento triste e a rabugice são deploráveis em qualquer idade.

Pode se raciocinar do mesmo modo a respeito da velhice. Na extrema indigência, mesmo o sábio não poderia considera-la leve; quanto ao imbecil, ele a julgará pesada mesmo na riqueza.

As melhores armas para a velhice são o conhecimento e a prática das virtudes. Cultivados em qualquer idade, eles dão frutos soberbos no término de uma existência bem vivida.

Ele planta árvores que crescerão para os outros – Cecílio Estácio

Sólon, por exemplo, se deleita em seus versos, de aprender todo dia alguma coisa nova, ao envelhecer. Fiz como ele, descobrindo a literatura grega numa idade avançada.

É bom que um homem idoso se exprima pausada e suavemente. Aliás, o discurso tranquilo de um velho eloquente basta às vezes para reter sua audiência.

A vida segue um curso muito preciso e a natureza dota cada idade de qualidades próprias. Por isso a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice são coisas naturais que devemos apreciar cada uma em seu tempo.

A velhice só é honrada na medida em que resiste, afirma seu direito, não deia ninguém roubar-lhe seu poder e conserva sua ascendência sobre os familiares até o último suspiro.
Estudo assiduamente a literatura grega e, para exercitar minha memória, aplico o método caro aos pitagóricos: toda noite, procuro lembrar-me de tudo o que fiz, disse e ouvi na jornada.

Ouve-se ainda dizer que os velhos são mal-humorados, atormentados, irascíveis e rabugentos – e mesmo avarentos, examinando bem. Mas esses são defeitos inerentes a cada indivíduo, não à velhice.

Para ser aplaudido, o ator não tem necessidade de desempenhar a peça inteira. Basta que seja bom nas cenas em que aparece.

A maneira mais bela de morrer é, com a inteligência intacta e os sentidos despertos, deixar a natureza desfazer lentamente o que ela fez.

A natureza, com efeito, nos oferece uma pousada provisória e não um domicílio.

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