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sábado, 26 de outubro de 2019

A AMIZADE – Cícero




A primeira lei que se deve instaurar em amizade: não pedir a nossos amigos senão coisas honestas, não prestar a nossos amigos senão serviços honestos, sem sequer esperar que nos peçam.

O característico de um espirito bem constituído é alegrar-se com o que é bom e padecer com o contrário.

É que a Fortuna não é apenas cega, mas sobretudo torna cegos, na maior parte do tempo, os que ela favorece; eles tombam facilmente na arrogância e na fatuidade.

Assim, podemos ver pessoas, até então de um convívio agradável, se metamorfosearem: sob o efeito do comando, do poder, do êxito nos negócios, ei-los a desdenhar suas antigas amizades para cultivar novas.

Quantas vezes fazemos por nossos amigos coisas que jamais faríamos para nós mesmos, recorrer a um personagem indigno, suplicar, ou então atacar violentamente alguém e invectivá-lo com excessiva paixão! Tudo aquilo, que, em relação a nossos próprios assuntos, não seria muito honroso, torna-se inteiramente nobre quando se faz por amigos, e há muitos domínios nos quais frequentemente homens de bem consentem em perder ou em não obter certas vantagens, a fim de que sejam seus amigos, ao invés deles próprios, os beneficiados.

Essa estabilidade, essa constância são uma confirmação daquilo que buscamos na amizade: a lealdade. Com efeito, nada é estável no que é desleal.

Odiosa espécie, na verdade, a das pessoas que vos lançam no rosto seus serviços, que compete a quem dele se beneficiou lembrar-se espontaneamente, e não quem os propôs lembrar constantemente!

Um verdadeiro amigo é para nós como um outro nós mesmos.

Convém, preliminarmente, sermos nós mesmos homens de bem, antes de buscarmos alguém semelhante a nós.

... se comprazam na equidade e na justiça, se apoiem mutuamente em tudo, nada exijam do outro a não ser honestidade e retidão; e não apenas se frequentem e se amem, mas se respeitem.

Há uma forma de suscetibilidade a corrigir, em amizade, para conservar-lhe ao mesmo tempo sua utilidade e sua confiabilidade: com frequência somos obrigados a fazer aos amigos advertências, e até mesmo repreensões, e cumpre que o amigo em questão as aceite, quando forem feitas numa boa intenção.

Ao tolerar as faltas, deixa o amigo deslizar em relação ao abismo.

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