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sábado, 17 de julho de 2010

TRECHOS DE FERNANDO PESSOA NO LIVRO DO DESASSOSSEGO

Eu estava procurando esse primeiro parágrafo que a Bethania declamou no disco Imitação da Vida e encontrei outros trechos dos quais gostei. Há um site onde estão obras que já são de domínio público, que podem ser lidas, copiadas, impressas. O link para este livro é:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/vo000008.pdf


Aqui vão alguns trechos:

Eu tenho uma espécie de dever,
dever de sonhar,
de sonhar sempre,
pois sendo mais do que um espectador de mim mesmo, eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.



Tenho mais pena dos que sonham o provável, o legítimo e o próximo, do que dos que devaneiam sobre o longínquo e o estranho. Os que sonham grandemente, ou são doidos e acreditam no que sonham e são felizes, ou são devaneadores simples, para quem o devaneio é uma música da alma, que os embala sem lhes dizer nada.



Tenho sonhado muito. Estou cansado de ter sonhado, porém não cansado de sonhar. De sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer,




Mas tudo é absurdo, e o sonho ainda é o que o é menos.



Somos qualquer coisa que se passa no intervalo de um espetáculo; por vezes, por certas portas, entrevemos o que talvez não seja senão cenário.


A única maneira de teres sensações novas é construíres-te uma alma nova.



Houve tempo em que me irritavam aquelas coisas que hoje me fazem sorrir.



Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir — é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida.


É freqüente eu encontrar coisas escritas por mim quando ainda muito jovem — trechos dos dezessete anos, trechos dos vinte anos. E alguns têm um poder de expressão que me não lembro de poder ter tido nessa altura da vida. Há em certas frases, em vários períodos, de coisas escritas a poucos passos da minha adolescência, que me parecem produto de tal qual sou agora, educado por anos e por coisas. Reconheço que sou o mesmo que era. E, tendo sentido que estou hoje num progresso grande do que fui, pergunto onde está o progresso se então era o mesmo que hoje sou.


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