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quinta-feira, 10 de maio de 2018

O TEMOR E A FELICIDADE - Sérgio Pena e Lillo


Há alguns anos li esse livro e acho que ainda não partilhei aqui os trechos que me impressionaram mais. O conceito que na minha opinião é o mais interessante é: aquilo que é diametralmente oposto à felicidade é o medo.

A verdadeira felicidade depende de uma atitude particular ante a vida.
A vida pode ser feliz, conflitiva ou miserável.

Se se quiser ser feliz há que se aprender a sê-lo aqui e agora; com o que se tem e com o que se é.   Alcançar uma atitude cujo segredo reside, a nosso juízo, na aceitação de si mesmo e da vida, com suas luzes e suas sombras, com seus dons e limites. Só este caminho de conformidade com a própria existência pode levar o homem à felicidade.


Narciso Iral fala da felicidade positiva que seria alcançada através de quatro vias fundamentais:
A estética, através do gozo da beleza;
a intelectual, pela possessão do conhecimento e da verdade;
a volitiva, na realização do ideal;
e finalmente a afetiva, na percepção da bondade própria e alheia.

Aprender a ser feliz é a arte de ser você mesmo, o que implica, ao mesmo tempo autoconhecimento e realização pessoal.

Ao propósito vital de que se forma o projeto original de cada existência é a vocação. Ela dá sentido aos diversos atos da vida. É essencial à felicidade do homem o poder ordenar suas tarefas cotidianas em torno a uma atividade laboral que satisfaça e realize sua genuína criatividade; uma profissão ou ofício com o qual se sinta identificado.

Trabalho e diversão são experiências complementares e o entretenimento só é possível como uma pausa de um trabalho que sustente a existência. O excesso de diversão e a hipertrofia festiva, por outro lado perdem o seu caráter de imprevisto e frivolizam-se, podendo ainda converter-se em uma estereotipia e em um vício.

O medo sempre surge perante o risco de perder o que acumulamos, mas que de algum modo não nos pertence.
O homem que quer ser feliz deve sê-lo hoje e não amanhã; deve sê-lo com o que é agora, sem esperar nenhum acontecimento especial.

A liberdade do homem está em decidir alternativas.
O homem, tal qual um jogador de cartas, não pode modifica-las, mas é livre para engendrar seu jogo e é por isso, responsável por seu êxito ou seu fracasso; por sua alegria ou por sua infelicidade.

Felicidade depende de uma atitude interior, já que significa uma possibilidade aberta à vontade do homem e algo que se pode cultivar.
A felicidade exige não somente um esquecimento de si mesmo, como também uma despreocupação com a própria alegria. Quem busca ser feliz é porque não o é.

O legítimo amor próprio consiste na valorização profunda e sincera de si mesmo. Quem não conhece essa auto-estima dificilmente poderá estimar o outro.

A felicidade requer transparência e fidelidade ao ser: um viver de acordo ao que se é e em harmonia com o fundo de si mesmo. A felicidade é uma espécie de bússola que nos informa, a cada instante, o grau de coerência e de uma unidade anímica.


Todas essas angústias metafísicas emergem dum empobrecimento interior e de perda de um sentido de existência.
Dois modelos extremos de comportamento defensivo: a tempestade de movimentos e fazer-se de morto. A angústia hiperativa e a angústia paralisante
.
O medo refere-se à exclusiva estimativa intelectual de um perigo.
É uma experiência de “asfixia” do ser.

No homem civilizado a angústia surge pelos riscos sociais e culturais que ameaçam os valores com os quais o indivíduo identifica sua existência.

O medo é um bloqueio e uma inibição ante a vida que em grande parte se aprende e que, como tudo o que é adquirido, pode ser superado.
O verdadeiro valor é uma submissão do medo à razão.
O verdadeiro valor implica um equilíbrio particular entre a audácia e a prudência.

A ausência de valor é a origem da covardia; dessa fraqueza de ânimo que evita o compromisso e vacila ante a razão. O covarde é uma avaro de si mesmo que, por uma atonia do propósito e da vontade, inibe os impulsos espontâneos de sua natureza


Atitudes psicológicas errôneas

ANTECIPAÇÃO IMAGINÁRIA
Só é possível no quadro da percepção antecipada do perigo, da eventualidade de uma perda ou de um fracasso. O medo é produto da imaginação.
Em realidade, não tememos o que é, mas sim o que supomos que é  e o medo não surge tanto dos acontecimentos em si, mas de um pensar prévio sobre eles.

Não nos angustiamos ante o inevitável mas sim diante da possibilidade do risco. Quando se sabe o que vai acontecer, por pior que seja, já não se teme ou, pelo menos, o medo é menor. Frente ao definitivo e já consumado, quando é doloroso, só cabem  TRISTEZA, A CULPA OU O REMORSO.

Só tememos aqueles riscos que, sendo possíveis, são ao mesmo tempo evitáveis.


Na ansiedade expectante do medo e da angústia, não se prevê, mas sim se pré-vive o temido. É nesta translocação da temporalidade dos acontecimentos que surge o temor que desorganiza a execução dos atos e pode ainda, em condições extremas, paralisar por completo a conduta.

A angústia surge na brecha entre o agora e o depois... quando se abandona a realidade segura do presente.

Nasce do passado: da suposição que voltará a acontecer o já acontecido.


A existência habitual da maioria dos homens está cheia de convicções, de preconceitos e de normas aprendidas que puderam ser úteis em sua infância ou juventude, mas que agora entorpecem a plenitude da vida adulta.
A maioria dos temores do homem derivam quase que exclusivamente da contaminação da experiência nova com o previamente vivido ou imaginado.

O temor, em sua estrutura temporal, não é senão o produto da projeção futura de lembranças penosas, reais ou supostas e de riscos já vividos.


O Temor e a infelicidade, pareceriam surgir de uma curiosa resistência que opomos ao fluxo dos acontecimentos. Tanto a dor moral como o medo supõe uma consciência covarde ante o destino, que não aceita ou pretende negar o lado escuro da vida.
Uma aceitação irrestrita dos fatos é condição irrecusável para alcançar a felicidade duradoura. Essa aceitação incondicional de si mesmo, dos outros e dos acontecimentos é o único caminho que pode conduzir à paz e à serenidade da consciência.

De certo modo os fatos são neutros e somos nós mesmos que lhes atribuímos significado.
    
É a razão, sem dúvida, que decide sobre o significado das coisas, pelo menos no sentido em que “me importam” e “me afetam”.

A dor somática é uma espécie de protesto do corpo.
Do mesmo modo, o sofrimento moral não é uma consequência direta e necessária de um acontecimento penoso, mas sim um “protesto do psiquismo” que se nega a aceitar o indesejado, e também um aviso de que algo está incompleto ou imaturo em nossa personalidade.

Para vencer o temor é necessário aceitar até o próprio medo.

Todas experiências do homem são potencialmente nutritivas, sempre que, da mesma forma que acontece na digestão do organismo normal, este assimile o benéfico e liberte-se do tóxico, do inútil e do daninho.


Saude do homem = silêncio corporal.

O temor se nutre da incerteza que, de certo modo, é a cara sinistra da esperança, a esperança e a angústia têm em comum uma dose de expectativa incerta: sem a inquietação pelo que vai ocorrer, a esperança se transformaria em certeza; e sem a possibilidade de evitar o risco, a angústia se transformaria em certeza converte-se em desespero


Se recusamos os acontecimentos penosos, estes nos acossam com obstinação; se os aceitarmos, se desvanecem ou pelo menos encontramos a paz. 


O temor nada mais é  que a outra face do desejo e pareceria óbvio que quem pouco ou nada deseja, pouco ou nada pode temer.

Ansiedade designa indistintamente a impaciência pelo temido e pelo ansiado.

O medo do desconhecido é, no fundo um temor de perder o já conhecido.

O desejo é uma condição natural e necessária da vida do homem. Sem desejo, a conduta propositiva e criativa do homem é impensável.


O gozo profundo e duradouro só parece ser possível quando o homem se alegra com o que é seu e não deseja bens maiores dos que o que já tem.

O homem precisa de expectativas. Sem uma projeção futura, perde-se o sentido do propósito e já não é possível a ação. Só a partir do desejo antecipado é que se organiza o projeto pessoal do homem, essa vocação os impulsos de sua vida íntima que sustenta e dinamiza os impulsos da sua vida.

Expectativas falsas conduzem a ilusões pré-fabricadas e irrealistas, destinadas fatalmente a originar desencanto, frustração e infelicidade.
Desejos inferiores – possessão de bens materiais ou domínio dos outros
Desejos superiores – crescimento e desenvolvimento pleno da personalidade

Temer o inevitável e ansiar o impossível conduz a felicidade.
O segredo da felicidade está em sempre querer o que se faz.

Sobriedade, nada sobra e nada falta.

O único antídoto eficaz contra o temor é alcançar a verdade profunda de si mesmo. Sendo tão íntima nos transporta para algo maior que nós mesmos.

O que só ama a si mesmo viverá sempre no precário e no incerto. O que é capaz de amar o mundo vive na paz imutável da vida. Para conseguir a felicidade requer-se necessariamente um sentido de vida que transcenda o estritamente pessoal do homem.

Desejos ilegítimos seriam aqueles cuja realização produz alegria mas dos quais não dependemos.

Dois métodos para evitar a infelicidade:
1)      Buscar sempre em si mesmo o motivo real de toda aflição, que habitualmente supomos originada pelo outro ou pelas circunstâncias e,
2)      Perceber que todo sofrimento obedece `a nossa própria reação perante as situações e fatos que estão ocorrendo

Mudanças exigem constância, humildade e mansidão do coração. Só uma determinação de crescimento decisiva e responsável permite abandonar os disfarces e chegar a ser o que se é em essência.

É o abandono do que se era que permite converter-se em algo diferente.

Ninguém pode ser feliz se não começa a aceitar a si mesmo, assumindo seus limites e ainda seus próprios defeitos.



No campo da psicologia empírica existem dois mecanismos emocionais errôneos que impedem o homem de ser feliz: os sentimentos de culpa e os complexos de inferioridade. Ambos se vinculam à autodestruição por enganos reais ou supostos ou insuficiências pessoais.

Ninguém pode volar seus princípios éticos sem experimentar, legitimamente, culpa ou inferioridade. Mas também ninguém pode ser feliz se, voltando ao passado, vive se repreendendo e não é capaz de perdoar a si mesmo.

Faz-se uma distinção entre o arrependimento por uma culpa atual – benéfico e necessário – e o remordimento inútil por faltas do passado.


O temor supões sempre uma consciência covarde que, intimidada pelo risco, trai os propósitos da vontade e freia o impulso da ação. É esta timidez perante a vida, verdadeira avareza da alma, que não só origina o medo, mas também a decepção e o desencanto.


O humor quando não é sarcástico nem agressivo constitui uma forma de “tomar distância de si mesmo” e pode conduzir a um crescimento e a um aprofundamento da experiência pessoal.
Quando o humor deixa à vista o risível da psicologia e da conduta humana, converte-se em uma visão mais sábia e inteligente da vida

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