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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

A ARTE DE TER RAZÃO - SCHOPENHAUER


A ARTE DE TER RAZÃO –   Arthur Schopenhauer

A dialética erística é a arte de disputar, de modo a ter razão por meios lícitos e ilícitos. Com efeito, podemos ter razão objetiva, na coisa em si, mas estar errado aos olhos das pessoas presentes.
A verdade objetiva de uma proposição e sua validade na aprovação dos debatedores e ouvintes são duas coisas distintas. A aprovação dos ouvintes é para o que a dialética se volta.
Isso se deve à perversidade natural da raça humana. Se não fosse isso buscaríamos a verdade totalmente despreocupados se ela está em conformidade com nossa opinião.
Na maior parte dos homens, a vaidade inata é acompanhada de loquacidade e inata desonestidade. Estão errados mas é preciso parecer como se fosse o contrário. Ao interesse da vaidade o verdadeiro deve parecer falso e o falso verdadeiro. Devemos atacar o o argumento contrário mesmo quando esse pareça correto e decisivo.
Assim a fraqueza de nosso entendimento e a perversidade de nossa vontade se apoiam mutuamente; disso resulta que, em regra geral, quem disputa não luta pela verdade, mas por sua tese, pois não pode agir de outro modo.
As ferramentas são na medida de sua astúcia e malícia e cada um tem sua dialética natural e sua lógica natural.
Falsos julgamentos são frequentes enquanto falsos silogismos são extremamente raros. Uma pessoa não mostra facilmente falta de lógica natural, mas é provável que mostre falta de dialética natural. Este é um dom natural desigualmente distribuído.
Ocorre com frequência que, mesmo tendo razão nos deixemos confundir ou refutar por uma argumentação meramente aparente. Muitas vezes, quem sai vencedor de uma disputa deve sua vitória não tanto à correção de seu julgamento na exposição de sua tese, mas, antes, à sua astúcia e a habilidade com que a defendeu
A lógica se interessa pela mera forma das proposições; a dialética, por seu conteúdo ou matéria; justamente por isso a consideração da forma, isto é, do geral, deveria preceder a do conteúdo.
Aristóteles indica o disputar diferentemente de Schopenhauer. Ele busca a verdade.
Para a formulação límpida da dialética, é preciso, sem preocupação com a verdade objetiva (que é o objetivo da lógica), encará-la unicamente  como a arte de ter razão e será tanto mais fácil quando se tem razão objetivamente. Mas a dialética, como tal, deve apenas ensinar como nos defendermos contra ataques de todos os tipos.
Mesmo quando temos razão , precisamos da dialética para defendê-la e precisamos conhecer os artifícios desonestos para nos opormos a eles; na verdade, muitas vezes até precisamos deles para nos defendermos com as mesmas armas.
A verdade objetiva não deve ser levada em conta, porque na maioria das vezes não se sabe onde ela se encontra.
Quando surge uma disputa, geralmente todos acreditam ter a verdade do seu lado: em seguida, ambos passam a duvidar e é somente no final que a verdade é revelada, confirmada.
A dialética e uma esgrima intelectual.
A verdade objetiva é objeto da lógica.
A demonstração de teses falsas é a pura sofística.
A dialética e resumo e descrição das técnicas que a maioria das pessoas emprega para manter a razão quando percebe que a verdade não está do seu lado na disputa.
A dialética original e natural tem como objetivo simplesmente ter razão.
A dialética científica tem como tarefa principal epor e analisar estratagemas da desonestidade na disputa para que, em debates reais, possamos reconhecê-los de imediato e destruí-los.
Alguns Estratagemas:
Não está na ordem nem estão todos
1.    Ampliação – Levar a afirmação do inimigo para além de seus limites naturais. Interpretá-la no sentido mais amplo e exagerá-la, A nossa, ao contrário, no sentido mais limitado possível. Quanto mais geral se torna uma afirmação, tanto mais exposta a ataques.
2.    Tomar a afirmação apresentada de modo relativo como se fosse apresentada de modo geral
3.    Quando se quer chegar a uma conclusão não se deve deixar que ela seja prevista
4.    Para provar nossa tese, também podemos utilizar premissas falsas, caso o adversário não admita as verdadeiras. Pois a verdade pode resultar de premissas falsas, mas jamais o falso de  premissas verdadeiras.
5.    Inferir a verdade da afirmação a partir das próprias concessões dele.(Método Socrático)
6.    Quando o argumento que o adversário  quer usar a seu favor pode ser mais bem usado contra ele.
7.    Se o adversário se irrita inesperadamente diante de um argumento, insistir nesse argumento, não só porque é bom enfurecê-lo mas porque é de se supor que tenhamos tocado no ponto fraco de sua linha de pensamento.
8.    Em vez de razões, precisamos de autoridades, segundo a medida dos conhecimentos do adversário   (Eu digo, tu dizes e , no fim, o diz também ele; Depois que o disseram tantas vezes, não se vê outra coisa a não ser o que foi dito.)
9.    Quando não sabemos o que opor às razões expostas pelo adversário, podemos com fina ironia, nos declarar incompetentes: “O que você está dizendo supera minha fraca capacidade de compreensão: pode até estar correto, mas não consigo entendê-lo e renuncio a todo julgamento.
10. Se o adversário não dá uma resposta ou informação direta a uma pergunta ou argumento e se esquiva por meio de outra pergunta ou argumento isso é um sinal claro de que tocamos um ponto fraco; é um emudecimento de sua parte. É preciso, pois, insistir nesse ponto e não deixar o adversário em paz, mesmo quando não vemos em que consiste a fraqueza que tínhamos tocado.
11. Agir sobre a vontade por meio de motivações, e o adversário, tanto quanto os ouvintes, caso tenham o mesmo interesse que ele, são logo conquistados para nossa opinião, mesmo que ela tenha sido tomada de empréstimo do manicômio.     Podemos fazer com que o adversário notar que sua opinião, se fosse válida, provocaria um dano considerável a seu interesse, de modo que a soltará tão rápido como se fosse um ferro quente que tivesse pego por descuido.      Pois o que nos é desfavorável geralmente parece absurdo ao intelecto.
Nada supera para o homem a satisfação de sua vaidade e nenhuma ferida dói mais do que aquela que golpeia esta vaidade.
A paz vale mais que a verdade. (Voltaire)
Da árvore do silêncio pende o fruto da paz (provérbio árabe)

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