Reparai que somos sábios se seguimos a natureza como um deus,
curvando-nos às suas coerções. Ela é o melhor dos guias.
Os velhos inteligentes, agradáveis e divertidos suportam
facilmente a velhice, ao passo que a acrimônia, o temperamento triste e a
rabugice são deploráveis em qualquer idade.
Pode se raciocinar do mesmo modo a respeito da velhice. Na extrema
indigência, mesmo o sábio não poderia considera-la leve; quanto ao imbecil, ele
a julgará pesada mesmo na riqueza.
As melhores armas para a velhice são o conhecimento e a
prática das virtudes. Cultivados em qualquer idade, eles dão frutos soberbos no
término de uma existência bem vivida.
Ele planta árvores que crescerão para os outros – Cecílio Estácio
Sólon, por exemplo, se deleita em seus versos, de aprender
todo dia alguma coisa nova, ao envelhecer. Fiz como ele, descobrindo a
literatura grega numa idade avançada.
É bom que um homem idoso se exprima pausada e suavemente.
Aliás, o discurso tranquilo de um velho eloquente basta às vezes para reter sua
audiência.
A vida segue um curso muito preciso e a natureza dota cada
idade de qualidades próprias. Por isso a fraqueza das crianças, o ímpeto dos
jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice são coisas naturais
que devemos apreciar cada uma em seu tempo.
A velhice só é honrada na medida em que resiste, afirma seu
direito, não deia ninguém roubar-lhe seu poder e conserva sua ascendência sobre
os familiares até o último suspiro.
Estudo assiduamente a literatura grega e, para exercitar minha
memória, aplico o método caro aos pitagóricos: toda noite, procuro lembrar-me
de tudo o que fiz, disse e ouvi na jornada.
Ouve-se ainda dizer que os velhos são mal-humorados,
atormentados, irascíveis e rabugentos – e mesmo avarentos, examinando bem. Mas
esses são defeitos inerentes a cada indivíduo, não à velhice.
Para ser aplaudido, o ator não tem necessidade de desempenhar
a peça inteira. Basta que seja bom nas cenas em que aparece.
A maneira mais bela de morrer é, com a inteligência intacta
e os sentidos despertos, deixar a natureza desfazer lentamente o que ela fez.
A natureza, com efeito, nos oferece uma pousada provisória e
não um domicílio.
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